sexta-feira, fevereiro 04, 2005

O Triunfo dos Porcos?

No final da sua obra, George Orwell, colocava os animais à janela da mansão da Quinta, onde, no seu interior decorria uma festa onde os Porcos e os Homens se divertiam. A grande dificuldade era fazer a distinção entre uns e outros.
Agostina Bessa-Luis afirmava, ontem, que dificilmente reconhecia diferenças entre Sócrates e Santana Lopes.

Mas, a realidade é que precisamos de escolher um para nos dirigir durante os próximos quatro anos, dando de barato que não teremos "sampaios" pelo meio.

Assim, a escolha dos Portugueses torna-se agri-doce: amarga porque a escolha está limitada, doce porque, na prática se torna simples. E porquê?

Sócrates é suportado pela Esquerda. Ora, esta é conservadora e o Paí­­s precisa (todos o dizem) de mudanças. A Constituição é um dos principais travões a essa mudança. A sua alteração “precisa" do centro-direita, sendo, certamente, inviabilizada pela esquerda conservadora (a bengala de que Sócrates precisará).

O Paí­s entenderá que o pântano foi criado pelos que vão assumir as rédeas do poder se Sócrates ganhar. E tudo voltará ao mesmo. A “tralha guterrista" voltará com as mesmas polí­ticas voluntaristas, as mesmas boas intenções, mas a mesma incapacidade de criar a riqueza necessária para esse efeito, deixando a “conta" para os “governantes que se seguem.

O Paí­s vai perceber que Sócrates está a ser levado ao colo pelo capital, pelos não pagantes de impostos, pela imprensa que gosta (e precisa) de “sangue" (e trapalhada) para vender… Por muito choro que os estrategas socialistas inventem, tentando colar o colo de Santana a outros colos boateiros. Afinal, entenderam eles, Sócrates também precisa da sua quota-parte de vitimização…
Daí­, toda esta cena.

A esquerda vai dar-lhe uma resposta, fazendo crescer a votação no BE e “suspendendo" por algum tempo a queda do PC. Porque não é possí­vel estar com Deus e com o Diabo. E esta, é a camisa de sete varas de Sócrates : é apoiado (hoje) por forças contraditórias. Não é um apoio sustentado e, vai cair até 20 de Fevereiro, mesmo que não até ao ponto de perder as eleições. Apenas porque o "colo" é muito forte.

E Santana Lopes?

Foi ví­tima. Sem dúvida. Numa parte (pequena), culpa sua, fruto sua inexperiência como 1º Ministro. O princí­pio de Peter esteve perto de ser aplicado. Mas, como bom camaleão político, rapidamente lhe daria a volta. Não teve tempo. O socialistão Sampaio tratou de cortar as asas que se arriscavam a levar Santana a uma vitória dentro de dois anos…

Iniciou várias reformas significativas (impostos, administração pública, rendas, defesa, saúde, eficácia fiscal). Que se juntam a outras, de Durão. Com o tempo, os que estão a levar Sócrates ao colo até ao poder, até já vão reconhecendo isso mesmo. Era vê-los naquela mesa de jornalistas na SIC-Notí­cias, após o debate, a reconhecer isso (só porque estão certos da vitória de Sócrates, que sustentam). Será já a segurança dessa vitória que lhes faz virar o discurso para a verdade?

Santana não poderá, com justiça, ser confrontado com os 2 anos e meio de governação do PSD-PP. Afinal uma legislatura é de 4 anos e não deixaram (Sampaio não deixou) que fosse cumprida. Apenas se permitiu que se estancassem as “feridas" deixadas por Guterres (e Sócrates). Foram dois anos de sacrifí­cio a que se seguiriam dois anos de convalescença e crescimento. Não deixaram. Não é possí­vel procurar por e exigir pelas promessas feitas.

Daqui se resume: Só a opção PSD-PP poderá assegurar alguma evolução. E trazer justiça à situação criada por Sampaio.

O espectro polí­tico português é mais ou menos simples. Cada partido tem os seus núcleos fixos e há uma faixa variável que se desloca de um para o outro partido decidindo vitórias, maiorias, derrotas e quedas em cada situação.

O núcleo fixo do PS é maior do que o do PSD. Mas este último partido mobiliza mais facilmente os indecisos. A faixa que flutua entre ambos. Daí­ a sua capacidade, já demonstrada, em ter maioria absoluta sozinho e a incapacidade do PS, também já vista de a atingir.

E isto é fácil de explicar. Como vimos, actualmente, o PS é suportado por “forças" totalmente contraditórias. Se quer agradar ao capital e à imprensa (que o estão a levar ao colo) acaba por perder a esquerda (à conta do PC e do ainda mais perigoso – para o PS – BE que não tem o estigma das “criancinhas ao pequeno almoço" mas das “tias de Cascais"). Se se vira mais à esquerda, com o discurso da pobreza (como se este assunto fosse exclusivo dessa esquerda) perde a classe média que está farta de levar cacetada.

Como o PS não se está a comprometer com nada, por todas as razões atrás indicadas, vai perder dos dois lados. Talvez perca menos do que se optasse por fazer um discurso virado para um deles. Mas perderá o suficiente para não obter a maioria absoluta.

O PS terá cerca de 40% (que já não é nada mau para os guterristas pantanosos, mesmo atendendo aos colos que tem usufruí­do).
O PSD acrescentará 10% (dos actuais indecisos) ao seu núcleo base de 25%. E esta é a grande alteração que justificará a falácia das sondagens.
Os outros três ficarão muito próximo uns dos outros entre os 8 e 10 por cento.
O PP próximo dos 10% que ambiciona.
A CDU estancará a sua queda dos últimos anos e o BE crescerá à conta do discurso que o PS será obrigado a fazer para impedir que os indecisos votem PSD.

E, perante a embrulhada criada, Sampaio demite-se …

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