terça-feira, dezembro 29, 2009

Porque não avançamos na Educação?

Simplesmente porque Portugal procura a “redução das desigualdades”.

É o “eduques” e o “sindiquês”. As duas correntes mais fortes na Educação em Portugal desde o 25 de Abril. Ambas, na procura da igualdade através da redução das desigualdades.

Mas não é isso o politicamente correcto? É. Mas é também o caminho mais rápido para a ruína.

A redução das desigualdades não é, por si só, um mau objectivo. Se essa redução se conseguisse por via da subida dos níveis inferiores. Mas será (e é) um mau objectivo quando, o único resultado é a redução dos níveis superiores.

Sendo um objectivo tão dúbio, o melhor é dá-lo como mau. E substitui-lo imediatamente por outro: a subida dos níveis inferiores. Por si só. Sem prejuízo da subida simultânea, mesmo que a maior ritmo, dos níveis superiores pois são estes que, num modelo equilibrado e na maioria das situações, asseguram mais aos que têm menos.

É simples reduzir isto ao essencial: a redução das desigualdades, quando assegurada por via do “tirar aos mais ricos para dar aos mais pobres” acaba por tirar a todos. Pois o nivelamento faz-se ao nível da mediocridade e da consequente redução dos recursos disponíveis.

As vozes dominantes na Educação têm sido: o “eduquês” que facilitou com os resultados que conhecemos. E o “sindiquês”, onde tudo o que interessa é assegurar o mínimo trabalho e maior rendimento possível aos professores, em prejuízo de tudo o resto: os contribuintes pagantes e, mais importante, os alunos que acabam ignorantes. A curto prazo, o País menos formado e educado. Menos competitivo e mais pobre.

O “eduques” luta pelo facilitismo. Todos os alunos são capazes, devem passar todos e, para provar isso, reduz a dificuldade ao mínimo. Todos (ou quase) progridem e devem concluir o 12º ano. Os maus e medíocres são promovidos a suficientes. Estes e os bons encostam-se aos Muito Bons que fazem desaparecer os Excelentes. Não se distinguem (no topo das classificações) os Bons, os Muito Bons e os Excelentes. O resultado é previsível. Sem motivação (e porque as avaliações não os distinguem dos outros) desaparece a excelência.

Infelizmente, sabemos bem, são as elites que levam os grupos para a frente. Que os dirigem, que os motivam, que os fazem crescer. Um sistema que não promove e motiva esse grupo terá um fim triste.

Turmas de elite e turmas escolhidas são “crime”.

A integração é o discurso vigente. Que, distribuindo os mais lentos por todos os grupos leva à redução óbvia dos ritmos, dos objectivos e dos resultados desses grupos. E da excelência que por lá poderia existir.

A mudança deveria ser feita, sem prejuízo da atenção devida a esses alunos, mais lentos. Mas nunca em prejuízo dos mais produtivos pois será deles, com esses ritmos que precisaremos, no futuro, para alancavar o País.

Daí que ao “eduquês” que nivela pela mediocridade, dizemos não.

Fingindo ser outra linha de pensamento, temos o “sindiquês”. Que luta pelo mesmo, mas são mais cínicos. Só têm olhos para a sua barriga e para o seu bolso. Pretendem que os contribuintes os remunerem mais, a todos e por cada vez menos trabalho. Pior ainda, por trabalho cada vez menos produtivo. Porque, infelizmente, é esse o resultado.

Os primeiros perderam alguma força.

Por agora.

Porque os segundos ganharam. São eles que negoceiam agora com o ME.

A Ministra cessante (Maria de Lourdes Rodrigues) actuou na maioria das situações em que o Sistema Educativo estava carente. Mas acabou vítima da necessidade de marketing de Sócrates (eram precisos resultados e o “eduques” encontrou, aí a sua força) e na sua própria fraqueza: atacou – com pouco sentido político - os docentes.

A verdade é que esteve quase a ganhar. A toda a linha.

Eliminou o poder absoluto dos professores nas Escolas (o modelo de gestão “democrata” é de um absurdo atroz) e pretendeu avaliar os professores. Com o fim simples de passar a considerar que a PROMOÇÃO na carreira docente seria um prémio para alguns (se possível os melhores) e não uma certeza para todos que, a meio da sua carreira chegam ao seu topo, usufruindo dos maiores ordenados europeus (para a tarefa e em relação ao PIB) sem que para isso tenham feito (ou tenham que fazer) algo de relevante.

Foi aí que se verificou a reviravolta. E do quase ganhar tudo, arriscamo-nos a perder tudo. Os defensores do “sindiquês” agarraram-se com unhas e dentes à divisão da carreira em dois e ao modelo de avaliação, de uma complicação atroz. E a Ministra não cedeu nestes pontos.

Como resultado da teimosia (a Ministra não precisava de manter aquelas duas posições) todo o ganho está agora em risco.

O fundamental na Educação em Portugal é a melhoria da formação dos alunos. Claro que são necessárias instalações e equipamentos. Mas o mais relevante é o empenho e qualidade dos docentes e do seu trabalho. De nada serve termos bons professores se eles não colocam no terreno essa qualidade e o empenho que se exige para se chegar a bons resultados.

Infelizmente, o modelo de “todos chegam ao fim da carreira ao mesmo ritmo” elimina o prémio que valorizaria as melhores prestações. Que acordaria os professores (mesmo) bons e colocaria os menos bons a trabalhar para melhorarem.

Porque a malta “sindiquês” vai dizendo que quer avaliação. Mas, paralelamente e mais à surdina, vai garantindo que a mesma não pode ter consequências e, perante a impossibilidade de justificar isso perante a opinião pública, vai negando todos os modelos avaliativos que vão surgindo.

Na altura certa, Maria Lourdes Rodrigues deveria ter deixado cair a carreira de dois patamares. E deveria “esquecer” o modelo de avaliação. O mais certo é que o modelo que restar no final deste processo será mais uma falcatrua em que todos os professores terão – sempre - a avaliação que precisam para que, alegremente e com o mínimo de trabalho, vão progredindo na carreira, até ao seu topo. E, face à facilidade, teremos os Bons, Muito Bons e Excelentes professores que (são poucos, mas também) temos, a arrefecer a sua produtividade, pois num mar de mediocridade, tudo o que é acima de Bom é imediatamente abatido.

A solução é simples: a progressão na carreira passaria a ser simplesmente um prémio aos melhores. Independentemente de uma avaliação que, defendo, nem é necessária e só subtrai esforços e recursos à tarefa central da Escola: educar e formar os seus alunos.

O sistema simplificado asseguraria que cada docente estaria em condições de ser promovido (passagem ao escalão superior) ao fim de um mínimo de X anos no escalão anterior. E que, do conjunto de professores de cada Escola em condições de promoção, seriam efectivamente promovidos Y%. Aqueles que a Escola entendesse por bem (e utilizando um qualquer modelo de seriação – e não avaliação) que o mereceriam. Quanto a esse sistema de seriação/escolha, seria definido pela Escola, sem prejuízo de linhas de orientação simples. E teria que ser um modelo simplificado para que não se perdesse muito tempo e esforço na matéria.

A percentagem Y% teria um valor de referência, um máximo e um mínimo. A evolução dos resultados da Escola nos exames nacionais e nas provas de aferição (posição relativa em rankings) determinaria o valor em concreto em cada ano. Se a Escola evolui, aproxima-se do máximo. Se a Escola regride, cairia para o mínimo.

A verdade é que o sistema deveria conduzir a que, no universo de docentes, 20% chegasse ao escalão máximo da carreira no final da mesma. Teriam que viver com a possibilidade de 20% não passar do escalão médio, ficando os restantes nos patamares intercalares.

Infelizmente, a teimosia da Ministra foi mantida e a actual… parece que está mandatada para a cedência. Entendendo isto, temos os sindicatos a esticar a corda: vão reivindicar até mais não. Por outro lado, aproveitando a distracção dada pela luta sindical e sabendo que a necessidade da mostra de números favoráveis mantém-se, o “eduquês” voltará em força.

Quanto aos alunos, a Educação, o País, temos a ruína à vista.

Medina Carreira só pecará por defeito.