A coerência é, normalmente, uma das atitudes ausentes da lista dos socialistas quando estão no poder.
Na oposição estão contra tudo. Contra o orçamento, contra a eliminação dos benefícios fiscais, contra a (re)introdução das portagens, contra a lei do trabalho, contra a lei das rendas, contra a dinamização dos genéricos. E, neste processo, são veementemente apoiados pela imprensa e pelos seus escribas opinativos.
Quando chegam ao governo, tudo se altera. Sabendo muito bem que a sua posição anterior era pura e simplesmente demagógica, sabendo que aquelas medidas (difíceis) são incontornáveis, mantém-nas, utilizando um qualquer álibi que sustente a incoerência (estabilidade, já ouvimos, num caso).
A imprensa, aí, mantém-se quieta. Afinal têm que assegurar o seu papel de “colo”, que tão bem cumpriram antes de 20 de Fevereiro. Afinal foram eles que conduziram Sócrates até onde está.
A decisão é coisa difícil para os socialistas. Entra muito dificilmente no seu dicionário. Estudam, ouvem, dialogam, procuram consensos. E é tudo. Depois, (in)decidem. Ou seja, não fazem coisa nenhuma. Adiam. E porquê?
A base de apoio dos socialistas é extremamente larga. E, por isso, contraditória. Têm dois apoios distintos suportados pela imprensa. Este processo funciona muito melhor na oposição. Basta dizer mal. Denegrir. Dar voz a quem diz contra e silenciar quem diz a favor.
No governo é muito mais complicado. A governação deve ser muito mais pró-activa. Pelo menos é isso que todos esperam. Foi isso que Guterres não foi capaz de fazer. E, provavelmente, não devido a ele, mas devido ao PS e, disso, também Sócrates, será vítima.
Utilizam o caso co-inceneração para apresentarem um Sócrates decidido. Mas não será menos decisão e mais teimosia?
Os apoios do PS são contraditórios.
Por um lado a UGT, o povo (esquecido, ávido de benesses e não convencido sobre a necessidade de sacrifícios), as corporações sindicais em defesa dos seus privilégios e a pressão dos partidos de esquerda que exige uma resposta contínuacpor parte do PS para não ver, por eles canibalizada, a base de apoio de esquerda. São senadores, neste grupo, os líderes sindicais, Soares, Vital Moreira, Alegre e a tralha guterrista.
Por outro lado, o Banco de Portugal, os economistas, a Banca e os eleitores de centro-esquerda (mais esclarecidos) que procuram(?) em Sócrates uma governação contida e rigorosa. São senadores nesta facção, os capitalistas, os banqueiros, Victor Constâncio e entidades patronais.
A imprensa suporta os dois lados, tentando dar uma ideia de conjugação de objectivos que é, na realidade, impossível na altura da decisão. Ideia que era, na verdade, muito mais fácil quando se fazia oposição.
A mudança é, por isso, impossível com o PS. Este é um corpo com duas pernas, cada uma a se tentar mover para o seu lado (oposto).
Qualquer decisão que agrade a uma facção será contrária à outra. E contrariada. E, daqui não saímos, pois o apoio de qualquer dos lados é fundamental e imprescindível para o PS.
Resultado: como vimos na campanha eleitoral, não se apontam objectivos e medidas, optando-se por um programa vago e genérico. Na governação, tudo será igual. Pura e simplesmente, não se decidirá. Vamos ficar pelos estudos, pelo diálogo e… pela indecisão. Revigoram as corporações e os situacionistas. Perde o País e é hipotecado o futuro.
Em conclusão, Portugal fica adiado.
Mas, como o Mundo não para, Portugal adiado é Portugal para trás…
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