segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Ministério da Educação: mais dois diplomas, mais uma greve

Os professores Portugueses têm vivido com a complacência das sucessivas tutelas na Educação. Afinal essas tutelas têm sido constituídas sempre por…mais professores.

A situação, ao fim de décadas, configura hábitos (diria vícios) de interpretação de diplomas e leis por parte dos sindicatos, sem a devida contestação daquelas tutelas.

Na prática temos férias “ilícitas” e horários de trabalho “truncados”.

Logo virão os sindicatos dizer que não. Que os “períodos de interrupção de actividades lectivas” e a “componente não lectiva” dos docentes são para isto e para aquilo e que ficam ao dispor dos directores e conselhos directivos para as tarefas que lhes forem incumbidas.

Na prática, nada disso se verifica. Sem prejuízo de muitos (não tantos como isso) bons profissionais que cumprem os seus deveres e que por isso são (injustamente) as verdadeiras vítimas do desprestígio que a classe vem sofrendo, há que tomar medidas. Aliás, há que referir que as medidas do Ministério (e as que registo de seguida) seriam, para além das Escolas e das Alunos, as melhores “aliadas” dos BONS PROFESSORES. Aqueles que, trabalhando bem, gostariam de ver TODOS os seus colegas, a trabalharem com o mesmo empenho…

Algumas medidas têm sido tomadas. Outras (algumas) sugestões:

Os horários dos docentes deveriam ter registado nos seus horários TODAS as suas horas de trabalho. Todas. As 35 horas. Durante todos os dias do ano a menos dos (devidos) dias de férias.

Dessas, algumas seriam lectivas, outras não lectivas de funções escolares e finalmente, as últimas, para trabalho pessoal. Todas registadas. Para os professores mais experientes, o número de horas do segundo grupo é superior, pois vêm reduzidas, gradualmente, ao longo da carreira, a sua componente lectiva. Durante todas essas horas (35), a presença no local de trabalho seria obrigatório, a menos que a Escola não tivesse condições para o efeito.

E, perguntarão muitos, o que são condições para o efeito? Algo como 3 postos de trabalho e um computador com Internet e impressora, para cada 10 professores da Escola e correspondente cacifo pessoal. Simplificando. Como é evidente.

Mas, e as Escolas vão trabalhar para criar essas condições? Pouco provável. Pois as Direcções das Escolas são eleitas pelos professores… a quem interessa NÃO existirem essas condições. Assim, seria dado um prazo razoável (um ano) para que as Escolas (que não as tenham) criem essas condições. Nestes espaços incluem-se salas de grupo, gabinetes de gestão intermédia, etc.

Mas atenção: esta lógica aplica-se também aos períodos não lectivos. Onde os professores poderiam (e deveriam) ser os dinamizadores das actividades não lectivas tão necessárias, nesses períodos, às famílias.

Com os professores na Escola, as substituições ficam simplificadas. E, defendo eu, devem ser remuneradas, em detrimento do professor faltoso, que seria “desremunerado” de igual forma…

No 1º Ciclo, o processo é distinto. Aí as reclamações serão mais lícitas (no que se refere ao alargamento do horário, não aos períodos não lectivos) pois das 25 às 35 horas sobram 10 que devem ser cumpridas na Escola, em processos de preparação e coordenação, mas não com os alunos nas referidas actividades. O modelo correcto já existe. Na Madeira…

Finalmente, considero justo que se clarifique a matéria do desgaste da profissão. Que se atribuam, claramente, mais alguns dias de férias aos docentes. Mas licitamente e não ao abrigo de interpretações erróneas e conselhos directivos a atribuir “dispensas de trabalho” (férias diria eu) totalmente contra as leis de direito de trabalho português. Sugeria que se definissem 3 dias úteis nos períodos de férias (dos alunos) de Páscoa e Natal e 1 dia no Carnaval. Assim, os professores passariam a ter, não 25, mas 32 dias de férias por ano. Até porque só podem tirar férias limitadas ao período de Verão…

sábado, fevereiro 18, 2006

Reordenamento da Rede Escolar

Um tema muito interessante e relevante trazido à mesa por Pacheco Pereira no Quadratura do Circulo. Para “elogiar” o governo na sua coragem. Coisa impossível se tivesse sido David Justino a avançar. Aí, o PS juntar-se-ia à esquerda demagógica e impediria qualquer avanço. Usaria como seus, os argumentos utilizados, hoje, por essa esquerda. E impediria qualquer avanço na matéria.

Está o PS no Governo. Está? Já vimos que não. A medida é pragmática. Não é socialista. Como muitas as que têm sido tomadas. Corajosamente tomada e “calando” a oposição de centro direita (onde eu voto) colocando-se (através das medidas tomadas) na sua área de acção. Já se viu que Marques Mendes está às “aranhas”. Não tem onde se colocar.

Assim, o PS é governo e… oposição. Na calada. É exemplo disso Jorge Coelho. Na Quadratura do Circulo. Já foi dizendo, a propósito do encerramento das escolas, que, apesar de “não ter voz governativa” e não “poder falar pelo governo” que nenhuma escola encerraria se não tiver garantias de transporte e bom acolhimento na escola de destino. Aqui está o PS. O verdadeiro. O que nada tem a ver com pragmatismo. O conservador. Avesso a reformas. O PS dos que estão a engolir sapos todos os dias com muitas das medidas deste governo.

Sem prejuízo de ter alguma razão em substância, pois é realmente necessário assegurar que as crianças das escolas encerradas tenham uma alternativa MELHOR que a actual, no processo de mudança, o certo é que com estas cedências, empata-se tudo.

Porque cabe às autarquias assegurar esses transportes.
E assegurarão? Não. Pois elas são as principais opositoras ao redimensionamento da rede escolar, como ao processo de fusão administrativa e a muitos outros… Vão defender com “unhas e dentes” todas as estruturas que, somadas, ainda asseguram alguma “massa critica” administrativa que suportam a sua existência. Não vão ceder facilmente. E terão (emotivamente) a população do seu lado. E assim, com esta intervenção, Jorge Coelho fez a oposição ao (seu) governo. Foi o pior que conseguia (e conseguiu) fazer à Ministra da Educação. Deu luz verde para que as autarquias (muitas dependentes de gente sua, do aparelho) não apresentem soluções (de transporte e outras) que assegurem as condições de encerramento das microescolas. Um pouco de demagogia social (populismo) das autarquias de centro direita acrescido da posição (corporativa) dos sindicatos de professores que temos e o caldo está entornado.

O que significa que, ou Jorge Coelho recua nesta sua posição, ou recua o País…

A medida está correcta e as condições para a concentração dos alunos nas novas escolas terão de ser criadas. Mas deixar isso ao livre arbítrio autarca, não é solução. Vão resistir até onde puderem (não criando, estrategicamente, essas condições de mudança), para defender outros interesses locais, mesmo em prejuízo claro e evidente das suas crianças…

Se são capazes disso? Claro. E com apoio do Jorge Coelho, disso e de muito mais.

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

A propósito do Financiamento do Ensino

Vou tentar fazer uma série de comentários ao trabalho de André Abrantes Alves do Insurgente. A partir do Arte da Fuga. Sem grandes juízos de valor, mas colocando algumas questões que tornarão menos relevantes, quer os aspectos negativos da solução actual, quer os aspectos positivos da solução proposta. A vermelho as minhas notas. A preto o texto original.

Nunca gostei da expressão ‘política educativa’. Ela está marcada por um entendimento que vicia toda a discussão sobre educação. A ideia de ‘educar’. A ideia do Estado educar os ‘seus’ alunos e os seus cidadãos sempre me confundiu.

Prefiro, pois, falar em aprendizagem. Com este conceito, interessa mais o que o aluno aprende do que o que lhe é ensinado. O aluno é o principal interessado em qualquer conversa sobre educação.

O que temos hoje em Portugal?

1) Um sistema de ensino público estruturado e pago pelo Estado, que visa a igualdade de acesso de todos à educação.
2) O Estado permite escolas privadas, mas impõe-lhes condições de modo que, sendo privadas, são de ensino público e não exime os seus utilizadores de pagar as escolas públicas.

1) Como nada é de graça, o Estado impõe condições.

a) Para cumprir a igualdade, estipula que não deve haver concorrência. Para não haver concorrência, os alunos devem frequentar a escola da sua área de residência.

Desta forma, se o aluno A é rico, vive no bairro A que é rico e frequenta uma rica escola que é a A.

Se o aluno B é pobre, vive no bairro B que é pobre e frequenta uma pobre escola que é a B.

Suponhamos ainda que o Bairro B tem enormes conflitos sociais. Naturalmente, a escola B (porque a escola espelha sempre a realidade das zonas de residência) será também uma escola com enormes conflitos sociais. O que acontece? Para que B possa mudar de escola, terá também de mudar de bairro. Ora, se os seus pais não tiverem dinheiro para mudar de casa, ele estará condenado a frequentar uma escola que não deseja e de onde o Estado não lhe permite sair. O contrário não sucederia se os pais tivessem mais dinheiro,

Esta situação é injusta e desigual, atingindo-se objectivos totalmente contrários aos inicialmente pretendidos.

As conclusões são válidas, de uma forma geral. Mas, se fosse diferente, como seria? O aluno do Bairro B também iria para a Escola do Bairro A. Por muito pobre ou ignorante que pudesse ser, a sua família não perderia a oportunidade de ir para a Escola “rica”. A Escola B ficaria sem alunos e encerraria. A Escola A, com tantos alunos do Bairro B ficaria pouco atractiva para os moradores do Bairro A. Apareceria uma Escola particular só acessível aos alunos do Bairro A. Pois cobraria um determinado prémio (valor em dinheiro, incluído na mensalidade) para além do voucher. Ficaríamos com duas escolas no bairro A e nenhuma no bairro B. Em relação à situação actual, pouco se teria alterado: os moradores do Bairro A na Escola A1 (particular) e os do bairro B na Escola A (publica). E esta, agora, com os mesmíssimos problemas (sociais e outros) da anterior escola B acrescido do factor distância (a percorrer do local de morada) trazendo maior inacessibilidade das e às famílias do Bairro B. Aos alunos da Escola A1 caberia uma nova escola, agora particular, mais cara (no valor do prémio) que a anterior (pública).

b) Há um programa de ensino único. Não são permitidos diversos e diferentes programas de ensino. Os pais não podem decidir o que estudam os seus filhos.

Por que é que isto acontece? Essencialmente por 3 razões:

i) Para a elite bem pensante que domina o Estado, os pais não incutem nos seus filhos o conceito de serviço civil, a ideia de pertença a um Estado, a uma comunidade unificada. Os pais antes os educam como seus filhos, pertencentes à sua família, integrados no seu grupo de amigos e de vizinhança;
ii) No entender dos especialistas da educação, os pais não sabem o que os filhos devem estudar. Por isso arrogam-se no direito de escolher por eles e em seu nome, e
iii) O medo da concorrência. A existirem vários programas, uns serão naturalmente melhores que outros. Desta forma, alguns alunos serão beneficiados e outro prejudicados. Ora, isto é algo que o Estado, de acordo com o conceito que tem de igualdade, não pode aceitar.

Mais uma vez tudo bem. Será? Pois chega-se ao final de um período formativo e são precisas certificações. Ora, estas dependem de currículos, cuja aprendizagem deve ser avaliada. Sem programas ou objectivos bem definidos, como fazer essa avaliação? Acesso ao Ensino Superior, acesso ao mercado de trabalho, acesso a mais formação (de níveis seguintes) dentro ou fora do País… Situações onde é necessário estabelecer alguma forma de paralelismo. Se cada Escola escolhe o seu caminho, temos o caldo entornado, no final...

2) O Estado permite escolas privadas, mas impõe-lhes condições de modo que, sendo privadas, são de ensino público e não exime os seus utilizadores de pagar as escolas públicas.

Assim, as escolas não são todas públicas, mas todos devem contribuir para as escolas públicas.

Esta realidade traz consigo duas consequências:

a) Há cidadãos que pagam duas vezes a educação dos seus filhos, muitas das vezes com enormes sacrifícios. Pudessem estes pais descontar no IRS o que pagam de propinas para as escolas privadas e o seu esforço seria menor. Pudessem os pais descontar no IRS o que pagam de propinas para as escolas privadas e muitos não seriam forçados a optar por escolas públicas.
b) Os pais ricos têm possibilidade de escolher entre uma escola privada e uma escola pública. Já os pais pobres são forçados a colocar os seus filhos nas escolas públicas, por as privadas serem muito caras. As propinas destas últimas são elevadas devido ao seu reduzido número. Fossem mais as escolas privadas, maior seria a concorrência e menor seria o custo das propinas.

São realidades concretas. Mais penalizantes para quem tem mais filhos. Os descontos até são possíveis, mas (mal e injustamente) limitados.

Como se resolve este problema?


Essencialmente, com duas medidas:

1) Privatizando todo o ensino. Todas as escolas devem ser privadas. O ensino deve ser privado, não devendo o estado ter qualquer intervenção nesta matéria.

E quem asseguraria o aparecimento de Escolas onde não haja apetência privada para o efeito? E serão muitas as zonas do País… O problema vai manter-se em relação à situação actual: os bons professores irão muito mais livremente (do que agora) para as boas escolas, onde os pais possam pagar o tal prémio acrescido para além do voucher… Que lhes permitirá uma melhor remuneração (merecida e impossível no sistema actual-uma vantagem). Os outros, os menos bons, os mediocres e os maus (que os há) ficarão nas escolas “da populaça”, nas Escolas B, onde cada alunos traz apenas o voucher… Ou seja, uma rede escolar mal distribuída, com os A e B bem separados e com serviços educativos de qualidade bem distinta.

Da mesma forma que separámos a Igreja do estado, devemos separar o estado da educação. A aprendizagem é fundamental para o crescimento de qualquer aluno e os pais devem ter total liberdade em orientar a sua educação. Essa liberdade só é possível se todas as escolas forem privadas, porque numa escola pública o estado intervém e regula o ensino e, ao fazê-lo, retira poder de intervenção aos pais.

Se o Estado só intervir na definição dos objectivos e conteúdos certificantes… tudo bem.

2) O estado deve subsidiar quem não pode pagar o ensino dos seus filhos, com a atribuição de vouchers. Encaro esta medida como sendo um mal menor e de uma forma pragmática. O ideal é todo o ensino ser de financiamento privado. Só assim se garante a total liberdade dos pais e dos alunos.

No entanto, tendo em consideração a crença socialista que existe em Portugal, a atribuição de vouchers aos pais dos alunos seria já uma enorme ajuda na dinamização do ensino em Portugal que se encontra estagnado e anémico.

Quais as vantagens dos vouchers?

1) Os pais podem passar a escolher a escola dos seus filhos;
2) Há um maior estímulo no interesse e dedicação, tanto da parte dos pais que passam a determinar o destino dos seus filhos, como dos alunos que sentem neles ser depositado um capital de esperança;
3) Permite aos mais pobres o acesso às escolas privadas;
4) Conduz à competição, com a subsequente redução dos custos, melhoria da qualidade de ensino e sua constante inovação.

Basicamente, é devolver o poder às pessoas. Estas preferem ser elas próprias a fazer os seus serviços sociais a acatar os que lhes são impostos pelo Estado.

Sim ao 1, sim ao 2 com uma ressalva: alguns pais. Os que podem pagar o prémio para as novas Escolas A1. Quanto ao 3, sim, vão para as novas escolas privadas tipo B1, para os alunos que só trazem o voucher. Competição (4)? Talvez. Mas sempre com Escolas A e Escolas B. Ricos e pobres. Agora, ricos que podem pagar um prémio acrescido ao voucher e pobres limitados ao voucher.

Que tipo de vouchers? Há vários:

1)Sujeitos, ou não sujeitos, a fiscalização;
A fiscalização pode ser feita através de inspecções e/ou atribuição de licenças. O preferível é que não haja qualquer tipo de fiscalização;
2) Só para algumas escolas ou para todas; Na minha opinião deve ser para todas as escolas privadas, sejam elas laicas ou religiosas (qualquer que seja o seu credo) É aos pais e não ao Estado quem cabe escolher a educação dos filhos;
3) Abrangendo só escolas públicas, tanto escolas públicas como escolas privadas ou só escolas privadas. O preferível seria esta terceira modalidade.
4) Abrangendo todas as famílias, ou apenas algumas. Na minha opinião apenas deveria abranger as famílias mais pobres;
5) De igual, superior ou inferior montante ao calculado custo anual de um aluno na escola pública. No meu ponto de vista, deverá ser sempre inferior.

O que é muito importante é que não sejam impostas quaisquer condições às escolas privadas, caso contrário, teremos escolas privadas, mas um ensino público. O que é de evitar.

Sim. Com pouco a dizer. Nada de relevante. Excepto a ideia transmitida de que o custo anual de um aluno numa escola pública é um valor de cálculo e definição simples. Não é. Se tivermos numa escola com 30 alunos por turma com professores em início de carreira (característica de uma Escola B) e outra com 15 alunos por turma (zona mais desertificada, por exemplo nos velhos bairros de elite das cidades) e professores em final de carreira (característica de uma Escola A) chegaremos a valores (custo/aluno) com um factor diferenciante que pode chegar aos 12. Sim. Um valor 12 vezes superior ao outro. Bastará saber que um professor em final de carreira ganha 3x mais e trabalha 2x menos (horas lectivas) que um colega recém-formado.

Para terminar, não posso deixar de salientar que os vouchers são um risco que vale a pena correr.

Em primeiro lugar, são um mal menor. Constituem uma política programática que tem em conta a realidade portuguesa, ainda bastante centralizada e dependente do Estado.

Em segundo lugar, tem vários atenuantes:

a) Nem todas as escolas terão de aceitar vouchers, e
b) Se a regulamentação da educação for reduzida, poderá abrir-se o caminho a que as famílias e as escolas definam o que entendem dever ser, em cada caso concreto, uma política de aprendizagem.

Tudo isto passa por uma mudança de mentalidades. Existe a crença que a família não está apta a cuidar da educação dos filhos. Pior. Há a certeza que muitas crianças mais desfavorecidas são salvas pelo estado e que os pais são um perigo para o seu futuro. Tudo se resume a um enorme preconceito social a que é indispensável por cobro. A génese do discurso liberal, nestas matérias, deveria estar aqui.

Concluindo: para apresentar soluções neste campo é preciso analisar muitos mais factores. O que não quer dizer que a solução não seja encontrada por esta via. Estou em crer que sim. Mas ter a ideia que a liberalização (ou a privatização) resolve tudo. É falso.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Bill Gates veio a Portugal

O homem mais rico do Mundo. Também um grande doador aos países mais pobres.
Mas também o homem que construiu uma empresa, a Microsoft que produz grande parte do software mais utilizado no Planeta.

Aproveitando o facto, o Governo Português não fez por menos. Recebeu-o com honras de Estado. Aproveitou e criou uma recepção de impacto mediático. Não se fazendo rogada, a Microsoft aproveitou e também divulgou o seu produto.

Nada de mais. Portugal precisa de fazer subir estados de espírito e a Microsoft de recuperar de alguns ataques por parte dos defensores do software livre e das entidades comunitárias que a acusam de práticas monopolistas.

Ambos aproveitaram. Mas, o que terá ficado dessa visita? Para além do marketing e do espectáculo, muito pouco.

A Microsoft está à beira de alterar, por completo, o seu modelo de negócio. Como excelente empresa que é, já percebeu que o actual modelo está prestes a esgotar. Já não há lugar para a venda de aplicações, ferramentas de programação e mesmo de sistemas operativos. Assim, apesar de nada “transpirar” já se percebeu que o Windows Vista será a lança da mudança.

Com a Ásia totalmente fora de controlo (as cópias do software abundam) e sendo estes os mercados determinantes para o crescimento do sector.
Com o software livre a ganhar terreno.
Com negócios emergentes (Google e Skype) a explodir.
A Microsoft já prepara a “libertação” do seu software…
Assim, o Windows Vista, para além dos renovados aspectos “visuais” deverá trazer: a gratuitidade no acesso ao software, a publicidade “entranhada”, e os serviços (pagos) de protecção contra vírus, os updates regulares, as comunicações (de todo o tipo) integradas, a formação on-line, os conteúdos (notícias, filmes, músicas – ver ITunes-, TV ao vivo, séries de TV). Tudo isto disponibilizado pelas “janelas” abertas pelos sistemas operativos e aplicações Microsoft…

Já vimos em Portugal alguns destes aspectos: a Microsoft afirmou pretender gastar 60 milhões de euros para formar 20 milhões de europeus… Pois os 60 milhões permitirão criar plataformas de e-learning de acesso livre (ou quase-livre). Para os tais 20 milhões se formarem no uso de aplicações… da Microsoft. Que, dentro de pouco tempo serão “downloadáveis” sem custos, matando a concorrência e potenciando à Microsoft a manutenção do seu estatuto de empresa líder mundial através de janelas extremamente valiosas para a publicidade que passa a ser o elemento mais lucrativo para a Empresa. Seguindo o modelo Google… Para além dos conteúdos e serviços já referidos. À Microsoft, no futuro, bastará que muitos usem os seus programas…

E Bill Gates disse em Portugal que a publicidade ainda estava por explorar. E de que maneira (deverá estar ele a pensar) …

E, para isso, precisará que eles (os seus programas) sejam (se mantenham) efectivamente bons. Os melhores de todos. Daí necessitar de toda a energia e criatividade. Garantindo-se, dessa maneira a evolução tecnológica. Com custos zero (de base) para os utilizadores (combatendo a pirataria pois deixa de ter sentido o software de acesso livre e gratuito e “matando” as acusações de monopólio). E criando novos negócios para a empresa (conteúdos, publicidade, formação e comunicações) de valor incalculável.

Assim, Gates não veio trazer nada a Portugal. Fomos provinciais na sua recepção. Mas nada de mal veio daí. E o certo é que muita coisa está a mudar… e Bill Gates está atento e vai, não só acompanhar a mudança, mas assegurar que ela ocorrerá à sua medida e de acordo com a sua visão…

Visão – Vista …Cá está.

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Professores e alunos: um sistema desiquilibrado

Trinta anos após o 25 de Abril, a Educação em Portugal tocou no fundo. Infelizmente, foram muitos (demasiados) anos onde os sindicatos ocuparam lugares privilegiados na discussão e “desenho” do sistema vigente. Discussão que era concretizada com o Ministério da Educação. E quem lá estava? Mais Professores, entretanto transformados em dirigentes e coadjuvados por ilustres entendidos em de Ciências Educação.

Em resultado de tudo isto e de todos estes anos, chegamos a um sistema de ensino e educação orientado de, por e para os professores. Não para os alunos e suas famílias.

Tudo isto tem uma razão: aquando do 25 de Abril, foram os professores que ocuparam grande parte dos (novos) lugares de decisão em Portugal. Eram eles que detinham a formação necessária, tão rara naquela altura. Muitos ocuparam lugares de deputados, autarcas, etc. Mas principalmente, instalaram-se no seu Ministério. O da Educação. Que se tornou numa máquina trituradora de (dos) Ministros não coniventes…

Nestes anos, todo o investimento e gastos educativos caíram só para um lado: custos com o pessoal docente. Apesar de Portugal gastar uma boa fatia (uma das maiores da Europa) do PIB com a Educação, quase 90% é para pagar ordenados. E os resultados dos nossos alunos, aferidos internacionalmente, estão onde todos nós sabemos. Criou-se um Estatuto do Pessoal Docente, com letra de lei, onde tudo cabe. Inclusive interpretações mal intencionadas, sempre em favor de mais ganhos e menos trabalho. Note-se que este tipo de documento, pura e simplesmente não existe em muitos países desenvolvidos… Porque não o consideram necessário.

Fala-se muito, agora, do ataque aquilo que os sindicatos docentes chamam de direitos adquiridos. Não. O Ministério, corajosamente está apenas a repor deveres à muito incumpridos.

Avaliação docente? Zero. Tanto para os alunos (até à pouco tempo, muitos alunos só faziam exames quando chegavam ao 12º ano) como para os professores (todos progridem na carreira). Ou seja, sem avaliação (ou com uma sua caricatura) obtemos facilitismo dominante. Dizem os sindicatos que há avaliação docente e que os professores não progridem na carreira de forma automática. Pois. Mas todos sobem sem excepção e ineterruptamente…

Ordenados? São, na Europa, os professores portugueses aqueles que mais ganham (no início da carreira, 139% do PIB) e cujo ordenado mais cresce ao longo dessa carreira (até 320% do PIB). Onde todos chegam (ou chegavam) sem excepção.

Estes números traduzem e demonstram o esforço que se faz em Portugal para remunerar a (sua) classe docente. Não é lícito (é até imoral) passar a mensagem aos contribuintes portugueses (maioritariamente a fonte financiadora dessas remunerações) de que os professores são mal pagos e por isso estão desmotivados (justificando uma inferior prestação).

Some-se a isto a redução do número de horas lectivas (de aulas) dadas por semana ao longo da carreira (22 no início da carreira até às 12 no final - para os professores dos níveis superiores).

E considere-se, ainda, o facto de serem muitos (os professores) no nosso País. E isso acontece porque a profissão é atractiva . Por muito que se fale, são dezenas de milhar que se candidatam todos os anos, sem sucesso, a um lugar nas Escolas...

Rede escolar dispersa e depauperada. Ou seja, muitas pequenas escolas com pouquíssimos alunos e condições perto do estado crítico. Porquê? Porque o reordenamento da rede eliminaria muitos lugares (menos professores necessários) e as boas condições nas Escolas dariam força na argumentação aos que defendem trabalho docente (componente não lectiva) na escola. Quantas vezes o sindicato pugnou e decretou greves pela melhoria de condições de trabalho nas Escolas? Não me recordo. Porquê? Porque se essas condições existissem estavam eliminadas as razões que colocam os professores fora das escolas muitas horas durante os tempos “de aulas” e muitos dias durante os tempos em que as aulas (actividades lectivas) estão interrompidas, sem contar com os (lícitos) dias de férias.

Gestão democrática das Escolas: ou seja, professores a eleger colegas para a direcção escolar. Que respondem uns aos outros. Mais um peso no prato dos professores na balança do sistema. No outro prato? Os alunos. Os mais fracos e prejudicados com tudo isto.

A formação docente tem sido controlada maioritariamente pelos sindicatos. Muitas vezes versando o “sexo dos anjos”, sendo muito concorrida apenas quando sobreposta aos períodos lectivos. E só porque é (praticamente) a única exigência para a tal progressão na carreira (aberta livremente a todos).

As turmas são grandes. Sempre foram e continuarão a ser. Mesmo quando forem de 15 alunos… Pois já foram de 35 e agora são de 25. E o discurso é sempre o mesmo… Mesmo quando se sabe que os Países com melhores resultados educativos têm, no Secundário, turmas com muito mais alunos do que em Portugal…

É por tudo isto que o País vai mal. Impôs-se um certo discurso público ao País e à custa da repetição transformam alguns ditos e falsidades em mitos e verdades públicas. E todos acreditaram nisto. Durante muitos e muitos anos.

Nada disto impede que existem bons professores. Evidentemente. E são estes (infelizmente uma minoria) que mais reagem às medidas recentemente tomadas, corajosamente, pelo Ministério da Educação. Porque são eles os mais atingidos. Afinal eles não são nada aquilo que se diz dos professores…Mas, infelizmente, "intoxicados" pelos discursos sindicais, não entendem que as medidas como aquela que os colocam a trabalhar nas escolas apenas prejudicarão (?) quem não trabalha. Porque para eles é só passar a fazer o mesmo em outro lugar.

Atenção: precisamos muito dos professores. Mas de professores realistas, com vontade de trabalhar e conhecedores da realidade. Não professores sempre lamuriantes e com ideias preconcebidas à conta de tanto ouvir os discursos sindicais…

Precisam de se lembrar de quando em vez que os sindicatos vivem e só existem enquanto houver problemas para gerir. Pelo que, quando estes (os problemas) não existirem, vão inventa-los…