As eleições de 20 de Fevereiro foram, na realidade, marcantes.
Mas por razões completamente diferentes das que têm vindo a público, via comunicação social. Esta, completamente manipulada, tenta passar a mensagem de que o País virou à esquerda e que esse passo é decisivo e irreversível.
Não, o que se passou é muito diferente.
Em primeiro lugar, curiosamente (ou não), pouco se vibrou com a maioria absoluta obtida. Desde a rua até aos discursos dos vencedores. Sabem bem, estes, que nada têm a festejar.
Então, qual a mensagem transmitida por estas eleições?
O PS está a “sangrar” à esquerda. Menos para a CDU e mais para o BE.
A CDU está a capitalizar a mudança de liderança, mas é coisa de pouca dura. As faltas de voz não serão eternas e o discurso (dinossáurio) voltará ao de cima.
O BE ganhará peso. Está na moda ser contestatário, mesmo que inconsistente e demagógico. Há uma parte do eleitorado que se revê no protesto constante, mesmo que aliado a uma crónica ausência de soluções e formas (não demagógicas) de resolver as questões. O BE ganhará volume, à custa do PS, sob qualquer tipo de política que seja seguida por Sócrates.
O PS conquistou a maioria absoluta à conta dos abstencionistas e do tal grupo de eleitores, ao centro, que decide eleições e que vota quer no PSD quer no PS consoante a sua intenção de efectuar um protesto em relação à situação vigente.
Assim, tendo o PSD restrito à sua base fixa, tudo o resto votou PS. E “disse” o quê?
Disse que queria mudar. O País? Não. As políticas. Que não estava interessado em sacrifícios; que os ordenados devem voltar a crescer. Que o emprego (mais do que o trabalho) deve aumentar. Que isso de produtividade, de déficites e outros que tal não era com eles. Que a sua reforma deve ficar garantida, seja qual for o custo, etc. Passou uma mensagem de egoísmo profundo e de desrespeito pelas gerações vindouras.
Entretanto, o PS foi levado ao poder ao colo da imprensa. Evidentemente, por conta do capital e das corporações (bem) instaladas. Mas também das audiências que crescem com todo o “folclore” criado.
E chegamos ao dilema.
Para (re)ganhar eleições e se manter no poder o PS terá de abrir as portas às benesses esperadas. Tal como fez no tempo do guterrismo. Para estancar as saídas à esquerda e manter os “flutuantes” à direita terá de responder positivamente aos sindicatos, às corporações e aos situacionistas. E para isso, basta não fazer nada. Estudar. Dialogar. Indecidir. O País não será reformado e voltaremos (muito rapidamente) ao pântano.
E o outro colo de Sócrates (o capital) ficará a ver navios. Realizará o tiro que deu nos pés. Mas será tarde. O emprego (sem trabalho) será criado à custa da esfera pública. E dos impostos que serão necessários para o sustentar. Os défices subirão (mesmo que despenalizados, entretanto, pela UE). A burocracia aumentará e o problema da sustentabilidade da segurança social, que cresce com o tempo e com a inactividade, será agravado.
Mas o desemprego não baixará. O emprego perdido por conta da baixa competitividade será compensado (apenas) pelo crescimento do emprego público. As grandes obras previstas nada acrescentarão no sentido da competitividade do país. Na Educação, onde as mudanças são mais necessárias, ficaremos na mesma, nas mãos dos sindicatos e das corporações instaladas.
Pelo que o dilema é irresolúvel. Com o PS, ou não há saída ou não há saída. E Portugal adia-se mais uma vez…
Mas, curiosamente, a saída passa pelo PS. E já devia ter acontecido com Guterres. Nessa altura o PS deveria ter sido “obrigado” a assegurar a legislatura até ao fim. Com quaisquer custos para o País. Seria assim e apenas assim que o País poderia erradicar de uma vez estas políticas (egoístas das corporações) e enveredar pelas reformas necessárias. Espero que, atingido (de novo) o pântano, sejam os socialistas obrigados a chafurdar nele. Sejam obrigados a sentir (no poder) as consequências das suas políticas. De forma a cortar de uma vez com o ciclo cigarra-formiga-cigarra-formiga… onde o centro-direita só é chamado ao poder para tomar as medidas necessárias e difíceis, sendo depois, logo dele arredado, para dar lugar à irresponsabilidade socialista sob a capa dos benfeitores sociais…
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