sábado, junho 11, 2005

Desonestidade intelectual

Não li, ainda, os artigos de Bagão Félix e Victor Constâncio no Público. Mas já é possível tirar algumas conclusões.
Bagão Félix fez o seu cálculo, algures a meio de 2004, para o défice desse ano.
Tal como o fez, agora, Victor Constâncio.
Apesar dos números obtidos serem semelhantes, Bagão Félix terminou o ano com um défice (não uma estimativa) de 2,9% aceitável (e aceite) pelas entidades comunitárias. Veremos o que se passará em 2005…
Ou melhor. Já sabemos. Alguém, intelectualmente desonesto, criou uma mistificação gigantesca (com auxílio de jornaleiros e escribas) transformando uma estimativa do défice, num défice, quando o ano ainda nem chegou a metade.
Tudo isto para “branquear” uma realidade: que o défice vai subir de 2,9 para 6,2 pois, apesar de toda informação conhecida, desde há muito. Isto para além da possibilidade de realizar, em tempo útil, um orçamento rectificativo.
Não. O governo de Sócrates coibiu-se de governar (no referente a este assunto), mas não de tomar algumas medidas despesistas (cuja “bondade” social pode ou não ser discutível).

Há, em Constâncio, desonestidade em alinhar neste embuste.
Desonestidade em negá-lo. Em afirmar que fez o mesmo em 2002. Não fez. Aí, avaliou um ano terminado. Governado por Guterres, mesmo que com um mês em gestão.

Se é admissível confundir 2004 (previsão de Bagão Félix) com 2005 (de Constâncio).
Se é admissível que alguns jornalistas alinhem no embuste ao chamar défice ás projecções do mesmo, baseado num documento orçamental, ainda antes do meio do ano…

Não é admissível que o Presidente do Banco de Portugal se venha defender do envolvimento neste embuste, comparando o trabalho que fez em 2002 sobre o défice de 2001, com o ano já está terminado e o orçamento fechado, com este exercício manhoso e intelectualmente mal intencionado referente a 2005, com ano ainda no seu primeiro terço…

Ainda ontem na SIC, insistia-se na “confusão” de que o valor de Bagão Félix referia-se a 2005… pelo que tinha sido escondido (idem no Expresso on-line).
Ignorância ou desonestidade?

E se a última hipótese é válida, assino por baixo dos ditos de AJJ...

E já agora, Dr. Constâncio, os seus esclarecimentos no caso do “seu” Fundo de Pensões?

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