sábado, novembro 19, 2005

Alguns “shots” Educativos

A confusão: os sindicatos de professores afirmam repetitivamente que estão a ser colocados em causa, pelo Governo os seus direitos adquiridos.
Por mim, apenas estão a ser repostos alguns deveres (há muito) incumpridos.

A idade de reforma cresce. Igual para todos os portugueses. O sistema não estava sustentado. Não poderiam ser os outros a sustentar aquelas regras diferenciadas…

A progressão na carreira congelada: correcto até existir um critério de avaliação consistente.

Os ordenados sobem pouco. Igual para todos os portugueses. Mas diferente para os professores. Pois. Nos últimos vinte anos, os respectivos ordenados subiram e não foi pouco. Um professor português do topo da carreira (e aí chegam todos os portugueses) ganha 3 vezes o PIB. Média europeia: uma vez e meia o PIB. E na Europa, só alguns professores (os melhores) progridem e atingem esse topo da carreira…

A componente não lectiva a cumprir na Escola, em nada afectará os bons professores. Afinal, se trabalham muito mais do que 35 horas semanais, nada de mais: bastará fazer algumas delas, na Escola…

As aulas de substituição: fundamentais. Permitem o enquadramento dos alunos num tempo que deveria ser ocupado e não o é devido à falta de um docente. Nada mais normal que seja um docente a cobrir essa falta. A falta de um é coberta por um colega, sendo que, posteriormente, o inverso acontecerá. A funcionalidade, controlo e segurança de uma Escola (nos dias de hoje) exigem que os recreios, jardins, corredores e outros espaços estejam desertos nas horas lectivas. Os pais, sabendo os seus filhos enquadrados, agradecem. Os alunos? Logo que a situação seja um dado adquirido nem se lembram da alternativa.

As faltas docentes terão de ser mais controladas. Com desconto imediato e directo no respectivo ordenado.



Nas Escolas, está disponível cada vez mais "trabalho" não lectivo com os alunos. Sim. Para ocupar, enquadrar, acompanhar, reforçar aprendizagens, incrementar apetências e dotações. Sim. O que é caricaturado pelos sindicatos com aEscola-armazém. Exactamente isso. Tudo sem "pressões avaliativas" e curriculares. Exige preparação. Pedagogia. Criatividade. Cultura Geral. Educação. Formação Pessoal. Ou seja, trabalho para docentes (do meu ponto de vista). Mas não para os sindicatos. Curioso. Renegam uma fatia significativa (existente, crescente e necessária) de trabalho na escola. E trabalho é emprego. Muito emprego. Por conta (dizem) da dignidade do trabalho e funções docentes... Trabalho esse em redução significativa (menor demografia). Um chavão sindical que custa caro. Muitas dezenas de milhar de empregos deitados fora ... Um absurdo.

Os horários alargados no 1º Ciclo: fundamentais. As famílias (trabalhadoras) agradecem. Mandar as crianças para casa mais cedo não as colocam com as famílias. Armazéns? Conversa demagógica…

A formação docente tem de dar uma volta. A soma de créditos era um absurdo. Poderia resultar de acções de formação sucessivas, sobre o sexo dos anjos…

A gestão escolar deve ser totalmente alterada. Os directores deverão responder à tutela e serem colocados por concurso. Circulam de escola em escola (após 3 anos de funções). Isto sem prejuízo da existência de um conselho pedagógico eleito pelos docentes.

Mas nem tudo são rosas. Algumas notas:

A reforma deveria ser possível antes dos períodos definidos. Efectuavam-se os cálculos devidos e o valor das pensões sofriam as penalizações correctas. Apenas um limite: o valor do ordenado mínimo ou metade da pensão máxima (o maior dos dois).

A redução da componente lectiva com o avanço da idade, deve ser mantida. Mas com compensação directa em outras funções (não lectivas). Actividades extra-lectivas, gestão pedagógica, direcções de turma, compensações de alunos mais fracos. Formação aos colegas mais novos. E muito mais. A componente lectiva até poderia ser reduzida a zero. Mas outras funções deverão ser activadas (para esses professores) até cumprirem o tempo de serviço necessário à sua reforma (pensão) ficar assegurada, pelos seus descontos (e não por descontos de outros, de outras profissões).

A progressão na carreira deve ser descongelada logo que possível. Exige-se, rapidamente um sistema de avaliação. Por objectivos e por quotas. Porque não?

As aulas de substituição deverão ser pagas. Exactamente no valor descontado ao professor faltoso. Os faltosos deverão informar da falta com a máxima antecedência possível (toda a população tem telemóvel) e deverá ser imediatamente seleccionado um dos professores na escola, em cumprimento da componente não lectiva para a substituição. As aulas de substituição não são a anedota o que os professores (sindicalistas e grevistas) tentaram fazer crer que são (uma reposição exacta da aula perdida), mas aquilo que Daniel Sampaio descreveu.

O alargamento de horário do 1º ciclo está deficientemente implementado. Deveria se seguir a um reordenamento efectivo da rede escolar (concentração, modernização de instalações), ser assumido (ou financiado) pelo Ministério (e não pelas Autarquias), enquadrado por pessoal docente do mesmo nível (pré-escolar e 1º Ciclo) e não por professores “voadores” do 2º e 3º Ciclos em complemento de horário, por monitores ou por outros docentes contratados em funções esporádicas (sem horário completo) sem contagem de tempo de carreira.

6 comentários:

AA disse...

Caro ocontradito,

Poço perguntar-lhe o que pensa da abertura do Ensino à actividade pública, sendo o Estado financiador em igual medida dos cidadãos (school-vouchers, etc...)?

AA

SL disse...

1. A idade de reforma cresce: nada a objectar. É assim para todos.
2. A progressão na carreira congelada: se o sistema de avaliação de professores não é bom, arranje-se um melhor. Aliás, os professores cansaram-se de dizer, ao longo dos anos, que este sistema de avaliação não presta. E mesmo assim, os sucessivos governos implementaram-no. Não forma os professores que pediram este sistema de avaliação. Logo, porque razão são penalizados por uma coisa que não defenderam?
3. Os ordenados sobem pouco: Se é verdade que os professores no topo da carreira são dos mais bem pagos, convém igualmente dizer que os Professores no início da carreira são os mais mal pagos da Europa. E, ao contrário dos juízes, médicos e políticos, não usufruem de ajudas de custo para as deslocações que fazem rumo às terreolas onde são colocados.
4. Seria excelente, para mim, fazer as coisas na Escola; só que as Escolas por onde tenho passado não têm computadores, nem impressoras, nem bibliotecas equipadas, nem salas de trabalho, nem mesas, nem cadeiras, nem lápis, nem esferográfica, nem papel higiénico. De forma que tenho de trabalhar a tal componente não lectiva em casa, onde gasto o dinheiro da MINHA ligação À net, onde gasto o dinheiro da MINHA impressora, onde gasto o dinheiro dos MEUS livros.
5. As aulas de substituição: nada contra. No entanto, se o horário de um professor é de 22 horas lectivas e passa a 26, o que falta? Falta PAGAR essa horas a mais. E, se não for pedir muito, falta estruturar as escolas com materiais que possam ser utilizados pelos professores de substituição.
6. As faltas dos docentes são controladas: são controladas de 45 em 45 minutos. São controladas de al forma que, se um professor faltar aos primeiros 45 minutos, tem igualmente falta aos restantes 45... Donde,...
7. A função docente precisa de dignificação: concordo. Será, por exemplo, digno dar aos professores estabilidade profissional, fazendo passar aos Quadros aqueles que são docentes contratados há 15 ou 20 anos e que o ME considera "necessidades eventuais"... ao fim de todo esse tempo. Dignificação através de um sistema de concursos que permita aos professores ganhar raízes numa mesma escola durante um período razoável de tempo. Dignificação, atrav´s da atribição de subsídios de deslocação. Dignificação, através do fim dos contratos com poucas horas - sabia que existem contratados com um vencimento inferior a € 150 mensais?
8. Os horários alrgados no 1º ciclo: fundamentais. De acordo. Mas não signifique isso que os docentes e educadores passem a trabalhar MAIS duas ou três horas diárias sem que exista qualquertipo de contrapartida. Ouserá que alguém o aceitaria numa empresa?
9. A formação docente tem, claro, de dar uma volta: os professores pedem-no há anos... Do que são culpados?
10. A gestão da escola pode ser alterada; mas atenção aos paradigmas pós-modernos da "gestão democrática" das escolas, envolvendo a comunidade. Há que ter bom senso.
11. Como avaliar professores? Boa questão. Avaliá-los em função de objectivos é perigoso: os índices de produtividade são, obviamente, um terreno minado. Concretizando: o ensino profissional é subsidiado em função do número de alunos que é formado. Isso significa que,se um aluno reprova, a escola não recebe o subsídio correspondente a essa "falta de eficácia". Logo, as escolas tratam de coagir os professores para que todos passem, independentemente de saberem ou não fazer alguma coisa. Infelizmente, o Sol tapa-se com a peneira e todos fingem não conhecer o problema.

Ou seja: parece-me que até podemos concordar em muitas coisas. Será, no entanto, necessário reflectir ponderadamente sobre alguns aspectos que são do descohecimento da opinião pública.

Anónimo disse...

Começo por agradecer o comentário.
Os assuntos são relevantes para o País. E infelizmente discutidos sempre com base em posições extremadas.
Sobre as suas notas:
2.A progressão na carreira não pode ser para todos. O sistema de avaliação existente é o que foi acertado pelas partes em concertação social. Sabemos bem o "peso" do sistema da formação vigente para os sindicatos...
3. Os ordenados no topo da carreira, em Portugal não são dos mais altos. São, de longe os mais altos. O dobro da média europeia, sempre em relação (como deve ser) ao PIB. Os ordenados no início da carreira são ao nível da média Europeia. Não são, (nada que se pareça), os mais baixos.
4. Quanto às condições de trabalho para os professores, nas Escolas, é motivo SÉRIO de luta sindical e não só. Infelizmente, nunca vi essa exigência nas lutas dos últimos anos...
5. As aulas de substituição: concordo, grosso modo com a sua opinião. Que sejam pagas as aulas. Mas cai muito mal a ridicularização promovida por professores e sindicatos.
6. Quanto ao controlo das faltas, referia-me a outras situações: formações em período não lectivo (horas e datas), atestados médicos duvidosos colados a fins de semana, pontes, inícios e fins de período, principalmente por parte de docentes deslocados. Greves às Sextas-feiras, etc.
7. De acordo com tudo.
8. Horários de 1º Ciclo. Não têm de passar mais horas. Apenas as devidas. Que não são 5 mas 7.
9. A formação docente: já referida acima.
10. A "gestão democrática" das escolas, envolvendo a comunidade. Tudo bem. Conselhos pedagógicos e da comunidade. Ok. Mas há outra gestão, executiva que não tem nada que seguir esses parametros. Afinal os clientes do sistema são os alunos (usufruentes) e os contribuintes (financiadores). E não os professores.

11. A avaliação por objectivos não teria esses perigos tão só porque as avaliações passariam a ser suportadas por exames nacionais. Um professor seria valorizado, não porque um seu aluno teve 18 em exame nacional, mas porque teve 15 tendo 10 como ponto de partida no exame final do nível educativo anterior. Valorize-se o valor acrescentado e não o valor pontual dos alunos... que provém, em grande parte do meio social em que vive e viveu.

Termino como comecei. O seu comentário é sinal que há futuro para a Educação neste País, se os assuntos forem devidamente dissecados e traduzidos em decisões sustentadas.

Sem extremismos e com pressupostos de base bem claros. E o principal: o cliente da Escola é o aluno e a sua familia. O financiador é o contribuinte. Sem os professores, nada feito. Principalmente quando precisamos de MUDANÇA.

SL disse...

Concordo, na generalidade, com o que diz, embora tenha reservas sobre o ponto 3.

Quanto ao ponto 2, parece-me que uma alternativa interessante seria, perdo-se-me a expressão, fazer com que as licenciaturas fossem como os iogurtes: com prazo de validade. Algo, aliás, que está previsto no Processo ed Bolonha. Assim, a reciclagem profissional seria feita nas universidades e astravés de uma avaliação séria dos docentes. Penso que os bons profissionais são os que mais têm a ganhar com isso.

A gestão democrática das escolas é qualquer coisa que me assusta. Não por não ser defensor da democracia, mas porque a gestão de uma escola tem de ser feita por profissionais que não estejam imbuídos de um espírito experimentalista. O experimentalismo na Educação é a causa remota de grande parte das asneiras que foram cometidas nas últuimas décadas.

Para finalizar: a avaliação por objectivos é outro terreno minado. Convirá ver como é feita noutros paises antes de se avançar com mais uma solução tirada da cartola.

cumprimentos,

Anónimo disse...

Na dúvida do ponto 3, sugiro consulta no seguinte link: http://www.eurydice.org/Salaires/CompPays.asp
Seleccione all countrys (quadro da esquerda), teacher e 2002/2003 e verá que o salário mínimo (início da carreira) de um professor português é 1,39 PIBs. Que é, simplesmente o maior valor de entre todos os Países analisados. E que no final da carreira, esse valor multiplica-se por 2,29 (Modulo II). De novo o maior valor de entre todos. O que coloca a remuneração em final de carreira em 3,18 PIBs. O tal valor que é, de longe e muito de longe, o maior da Europa.

Quanto ao ponto 2, concordo. Até consideraria a criação de anos sabáticos para esse efeito. Situados, por exemplo, no 15º, 25º e 30º ano de carreira. Seriam intervalos importantes na actividade, com formação obrigatória nas Universidades.

A avaliação por objectivos é difícil. Infelizmente os outros países também estão à nora. Mas concordo que não podemos avançar no escuro.

AA disse...

Caros ocontradito e prof24,

Peço desculpa por não ter tempo para participar nesta troca de comentários, mas queria deixar um reparo elogioso para a vossa atitude construtiva, infelizmente rara nos tempos que têm corrido...

AA