quarta-feira, maio 25, 2005

A mistificação (6,83) entendida

Referiu Sócrates na Assembleia, que 6,2% é o valor do défice que pretende atingir em 2005.
Já percebemos. Serão 6,2%.
Como o ponto de partida é de 6,83% teremos uma descida…
Embuste.

O défice é (?) 6,83%. Agora, será 6,2%. Afinal não era 6,83%!
Bastava governar um pouco…
Embuste.

O défice de 2004, retiradas as receitas extraordinárias foi cerca de 5%. Ao chegar aos 6,2%, teremos uma subida substancial. Porquê? Porque desde Julho, com a saída de Durão Barroso tivemos, primeiro, um governo que não conseguiu governar, depois um governo demitido a que se seguiu um governo em campanha eleitoral e um governo à espera de um estudo do Governador do Banco de Portugal…

Ou seja, desde Julho não há governo. A quem endereçar culpas da estimativa do défice de Constâncio? Sampaio primeiro, Sócrates depois. Para além de tudo o que está por detrás… e que sustentou o golpe de estado de iniciativa presidencial a que assistimos na segunda metade de 2004. O orçamento foi feito à pressão e a pedido de Sampaio. Por um governo demitido.

O discurso de Sócrates foi corajoso. Grande parte das medidas são fundamentais. Mas colou no tecto o contrato de compromisso que fez antes das eleições. Infelizmente perdeu-se ao manter a encenação demagógica do défice (que não o é) de 6,83%. Para justificar e mascarar o (verdadeiro) défice de 6,2%. Transformando uma subida numa descida (a comunicação social alinha nisto...) e, dessa forma, levar avante na não implementação de portagens nas Scuts (a sua teimosia), no aumento das prestações sociais que tinha prometido, no choque tecnológico e outras medidas despesistas. E, dessa forma, tentou “mascarar” o aumento da despesa.

Em troca, apenas não cumprirá no aumento dos impostos. Pouca coisa. No IVA (taxa e escalões), nos combustíveis, nos escalões do IRS, na não reposição de benefícios fiscais, nos vícios. Agindo sobre o défice no lado da receita e contrariando tudo o que tinha dito e redito, antes e depois das eleições.

Mas, reforço: Sócrates foi corajoso. As medidas são correctas na sua maioria. E estão na linha das dos anteriores governos. Muitas delas foram contestadas por ele, na oposição e delas evitou, a todo o custo, falar na campanha eleitoral.

Infelizmente volta a ser demagógico ao comparar os 4,1% (a crescer, no pântano) de Guterres, ao fim de anos e anos de vacas gordas, penalizados com um procedimento por incumprimento da EU, com os 4% a 5% (estabilizados) de Barroso em tempos de vacas magras (magríssimas).

O PSD foi coerente. Como se espera num partido responsável. Apoiará a maioria das medidas tomadas. O que não aconteceu com o PS quando era oposição.

O BE e a CDU trarão a contestação para a rua. Afinal ganharão muito peso com os descontentes do PS. A inflexão é demasiado grande para ser aceitável para estes eleitores.

Os eleitores do espectro central (PS-PSD) que, em Fevereiro votaram PS voltarão ao PSD. Entenderão este embuste e acabaram de se certificar que as políticas seguidas pelos anteriores governos, afinal, eram as correctas (é Sócrates que o confirma, repetindo-as). Apenas passaram (com Sócrates) a ficar de fora a Banca e o grande capital, crónicos infra-contribuintes.

Mas, o grande problema está para vir. Para lá do facto das medidas não serem suficientes para o pretendido (pois foram tomadas em simultâneo com outras, de cariz despesista), não são medidas aceitáveis para “socialistas”. Á contestação externa (BE e CDU) se somará a interna (Soares e Alegre, os ideólogos e os “puros” socialistas que não perdoarão o sacrilégio).

Os ministros das Finanças e Economia primeiro, Sócrates depois serão contestados. Os primeiros sairão, o último conduzirá o País, de novo, ao pântano.

Mas, talvez se salve alguma coisa. Muitas das medidas hoje anunciadas são importantes e deverão perdurar…

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