quarta-feira, outubro 18, 2006

Progressão na carreira docente

Quando se aproxima uma câmara de televisão de um professor manifestante ou grevista, dá jeito conseguir responder às perguntas cruciais: “porque está a se manifestar?” ou “porque está a fazer greve?”

Nessas alturas, qual é a resposta recorrente? A das grávidas e dos doentes… que são prejudicados na sua progressão da carreira. Até as quotas e a titularidade de parte dos docentes fica para trás.

É o tal “sound bit”.

O facto da matéria ter vindo a ser melhorada ao ritmo das versões e propostas do Ministério demonstra que é uma não questão.

Mas, mesmo sendo uma não questão, entronca numa verdadeira questão, essa sim essencial:

A carreira docente deixou (ou deixa, com este ECD) de ser um caminho simples, sem interrupções, até ao topo. A progressão, ao invés de ser para todos e linear, passa a ser uma promoção…

A diferença é substancial. De progressão para todos, passa-se à promoção para os melhores.

Quando se promove? Quando se atribui um prémio. Quando se valoriza a excepcionalidade e a produtividade extra.

A mudança é grande e difícil de “entranhar” nos pressupostos esquerdistas e igualitários (dos sindicatos de professores) onde se entende que não há que diferenciar os melhores só porque isso vai isolar os… piores.

Caso esteja garantido o ordenado e o suporte da segurança social, nos termos de todos os trabalhadores, não há qualquer inconveniente a que uma gravidez ou uma doença prolongada tenha impacto na promoção (ou progressão) na carreira… Afinal, como premiar quem não lá está? Não teria qualquer lógica.

Aí, saltam logo os argumentos de que a sociedade precisa das crianças, blá, blá, blá, blá…

Certo. Precisa sim. E deve valorizar (ou até compensar) quem as tem. Através dos impostos, do (de um novo) abono de família, do acesso mais facilitado a serviços educativos, etc. Não tem de ser, nem deve ser, à custa de igualdades nas promoções das carreiras profissionais que, assim, se distorcem…

Generalize-se essa ideia e veja-se o prejuízo: se todos fossem sempre promovidos por igual, apesar de uns produzirem mais do que os outros, a curto prazo, as mulheres (porque poderiam engravidar) passariam a ser (ainda mais) prejudicadas pelos empregadores. Afinal, estes teriam que pagar sempre mais, apesar de terem ao serviço pessoas menos produtivas e dedicadas.

Sim, porque a dedicação dos trabalhadores que são pais é - e deseja-se que seja - forçosamente menor pois é partilhada com a sua família. A constituição de uma família é uma decisão importante. Com consequências nas carreiras e empregos e que acrescenta custos significativos no orçamento familiar.
E, por essas razões, as famílias deverão ser mais apoiadas pela sociedade no seu todo (contribuintes em geral), através de um novo modelo de incentivo à natalidade. Que, neste momento, pura e simplesmente, não existe. Por exemplo, o valor de impostos pagos por um casal sem filhos e um casal com dois filhos apenas se diferencia marginalmente no IRS, valor que é logo ultrapassado pelo IVA no aumento de consumo provocado por aqueles.

Terminando, o “sound bite” dos professores não passa de uma resposta pronta para quem, provavelmente, estará nas manifestações e greves, sem ter lido a proposta do Ministério…

6 comentários:

Anónimo disse...

Os professores deixaram-se embalar, ao longo dos últimos 30 anos, pela sereia sindicalista. Se antes do 25A eram tutelados pelo Estado, a seguir continuaram na mesma, com a agravante da dependência se ter estendido aos partidos e sindicatos.

Ou seja, as questões pedagógicas, curriculares e organizativas nunca foram alvo de reflexão e crítica (com raras excepções, como A. Nóvoa, por ex.) e ficaram completamente subordinadas à ideologia e à carreira.

Agora, numa fase de mudança de ciclo (a ideologia de esquerda começa a dar lugar à ideologia de gestão empresarial) estão a pagar o preço de terem estado tantos anos nas mãos da Nomenklatura da Edukação.

Anónimo disse...

Caro ocontradito:
O "sound bit" é uma falsa questão.
O problema é muito mais complexo. Parte está nas quotas e na injustiça que lhes está inerente. Outra parte está em quem avalia, como avalia e o que avalia. Outra parte ainda está na dificuldade em ponderar factores contextuais, como a interferência do meio de pertença, do ambiente familiar, ou outros, no sucesso escolar. Educar não é como produzir pneus numa unidade submetida às leis da gestão empresarial. Contrariamente ao que foi dito, estas questões têm sido amplamente debatidas durante as últimas décadas. O seu desconhecimento só se justifica por ausência de participação, voluntária ou involuntária, de amplos sectores da sociedade, incluindo as famílias, neste debate pertinente.
Saudações.
Do Monge

Shhh disse...

Então acha justo que nem todos os professores cheguem ao topo da carreira, sabendo que trabalham tal como os outros?

Acha justo, eu que sou professora não chegar ao topo da carreira? Sim, porque esta história de aumentar os escalões eu nunca chegarei lá!

O que define um bom professor? O sucesso escolar? Então também não são bons professores aqueles que trabalham em bairros sociais, cuja realidade passa pela violência doméstica, droga, pedofilia etc. Diga-me, se estes alunos terão um bom sucesso escolar, sem ajuda de psicólogos nas escolas?
Pois... um professor que trabalhe nestas condições tem a mesma avaliação que os outros "felizardos" que ficaram colocados em zonas de pouco risco. Acha que vão ter uma boa avaliação?

Sabe me dizer quantos professores chegam a ser titulares? Não é isto que define um bom professor da "outra escumalha"?
Mas olhe... eu até acho que sou uma boa professora mas eu nunca chegarei a ser titular, visto que o número de vagas é limitado!

Não é correcto haver estas separações elitistas, num grupo tão grande. Falamos de milhares de professores. Porque isto não se trata de uma empresa, no qual é promovido entre uma centena, alguém. Milhares... Então, vou ter hipóteses? Sim... eu ainda acredito no Pai Natal. Até já lhe escrevi uma carta!

Inconcebível este Governo, é o que é.

ocontradito disse...

Todos trabalham, mas uns trabalham mais do que outros. Esses uns são premiados com uma progressão mais rápida...
Acho perfeitamente justo que haja diferênciação entre os melhores (que chegarão ao topo da carreira) e os piores que ficarão onde estão (neste caso até preferia a "troca" por um professor no desemprego que queira trabalhar).
Mas ao contrário do que refere, haverá muito mais possibilidades de progressão e titularização nas escolas mais desfavorecidas porque menos pretendidas pelos professores.
Para além de, ali, haver muito mais "espaço" para a melhoria dos alunos, de prova de que os professores são mesmo bons.
Claro que a proposta ECD tem de melhorar aqui. E fazer depender a dimensão das quotas da evoluçao global da escola nos rankings...
A progressão não é um sorteio.`Daí que o pai natal e o euromilhões não entram aqui. Quem trabalha mais e melhor é promovido. Quem não o faz fica onde está. Não perde a carreira e os seus benefícios associados. Mas prémios e promoções... só para os melhores.
Difícil de entender, mas...

Shhh disse...

Mas quantas vezes tenho de lhe dizer, que as vagas são limitadas? A progressão na carreira existirá sempre, mas com muitos anos para atingir determinado escalão. Eu não falo de 4 ou 5 anos, falo de 8, 10 anos! Para não mencionar a questão de muitos nunca chegarem ao topo de carreira. Os professores não são imortais...
Mas o que eu queria realmente abordar é a distinção entre professores titulares e os outros. Esses professores titulares serão escassos porque as vagas são limitadíssimas. Suponhamos uma escola que não esteja integrada num agrupamento. Quantos professores serão titulares? Um, dois, três no máximo, consoante o número de professores que estão no quadro. Acha mesmo que todos os bons professores chegarão a titulares? E os mais novos, siginifica que trabalham pouco?


"Mas prémios e promoções... só para os melhores." - Já parecemos a Macdonald's. Só com uma pequena mas grande diferença: para nós progredirmos na carreira demoraremos anos e anos, enquanto que na Macdonald's deverá ser meses ou algum ano.
Mas 8/10 anos, para atingir um dos escalões propostos?! Tem a noção do tempo?

Continuo achar isto um desesrespeito por todos os professores. E por mais que tente ver a perspectiva do Governo, não consigo. Não acredito em nada do que dizem ou do que fazem. Deveriam era cortar com os ordenados desses deputados todos, que para além de ganharem com o Governo, têm as suas empresas privadas e vão ganhando um, dois, três ordenados. Isso sim. E já agora deveriam colocar exames específicos a serem realizados anualmente por todos os deputados. Quem tinha boas avaliações era promovido e tinha o seu "tacho", os outros... temos muita pena!
Saudações!

José Manuel Dias disse...

O que nos safa +é que temos uma dupla de betão " Sócrates e Cavaco"...Governa-se a pensar em todos e não apenas nos que vivem do Orçamento do estado e que mais protestam.
Contribuinte