sexta-feira, outubro 06, 2006

Gestão Escolar - o assunto em falta

A actual equipa ministerial da Educação tem actuado em quantidade e qualidade. O futuro vai comprovar isso mesmo.

Tocou em muitas das áreas determinantes no sector: o reordenamento da rede escolar, nomeadamente do 1. Ciclo, a Escola a Tempo Inteiro, as aulas de substituição, os exames no final dos vários ciclos (prometidos) e o Estatuto da Carreira Docente.

Neste último, introduziu as alterações muito determinantes (e essenciais), apesar de “pecar” no processo de avaliação docente. Este é demasiado exigente e complexo, pelo que irá resultar num sugadouro de recursos na escola. Poderia ser muito mais simples não ficando “preso” ao sistema de avaliação dos restantes funcionários públicos. A função docente é significativamente diferente das restantes, justificando um sistema de avaliação mais simples.

A medida de avaliação dos docentes por parte dos pais cairá, sendo substituído por uma qualquer medida tipo “livro de reclamações”.

Todo este processo irá para a frente, validado pela opinião pública impulsionada pelas imagens televisivas do “reclamatório” corporativo, em greves e manifestações infantilizadas tipo meninas vestidas de preto amuadas que entoam musiquinhas pré-escolares com letras do tipo “Ministra, não gostamos de ti”.

De entre tudo o que é essencial, ficou de fora uma área importante: a Gestão Escolar.

Não entendemos bem esta opção. As restantes medidas apenas poderão resultar caso, nas Escolas, estejam equipas de Gestão fortes. Com capacidades várias e independentes de corporações que são, por si só, apenas uma parte dos interessados no processo de Gestão escolar.

Não vemos o novo ECD vingar enquanto nas Escolas estiverem, na sua Gestão, professores (e não gestores) eleitos por professores. Professores que lideram os seus colegas, seus eleitores. Professores que foram colegas e que deverão voltar a sê-lo no futuro, no final do seu mandato. Como pode haver boa Gestão nestas condições?

Gestão Democrática é algo definido na lei e que é interpretado como Gestão das Escolas por professores eleitos pelos colegas. Reduz-se a Gestão Escolar à Gestão de Professores e ignoram-se todos os outros interessados, interesses e objectivos. Democracia ateniense pura: uma sociedade “muito democrática” em que uns votam e os outros são escravos.

Vejamos outros interessados sem intervenção na gestão (que não seja “virtual”):

1)Os contribuintes, que suportam financeiramente o sistema. Que elegeram uma tutela para determinar políticas e faze-las cumprir. Como é possível que a Gestão Escolar não inclua, na escolha dos respectivos elementos, representantes dos contribuintes?

2)As famílias, que são clientes (tanto mais directos quanto mais novas forem as crianças e alunos).

3)O pessoal não docente, que trabalha na Escola e que, com o aumento da complexidade desta, até inclui elementos com níveis de formação elevados.

4)Os últimos, que são os primeiros, os alunos.

Sem prejuízo da eleição dos conselhos técnicos (pedagógicos e consultivos), não vejo qualquer interesse na manutenção do “status quo” na Gestão Escolar que sobrevive (quase exclusivamente) só em Portugal, tanto ao gosto da corporação docente, sindicatos e partidos da esquerda.

A minha sugestão:

A Gestão Escolar deveria passar a ser entregue, em exclusividade, a Gestores Escolares de carreira. Que podem ou não ser docentes. Gestores com especialização em gestão escolar ou professores com formação extra em gestão. Não importa. Os que forem melhores.

Os gestores escolares, quando professores, não poderão nunca serem gestores numa escola onde leccionaram. Assim, evitaremos relações e dependências que prejudiquem a sua tarefa.

Não estarão numa escola mais do que um determinado período (dois mandatos de 4 anos). Escolherão, dentro da escola, os seus acessores. Apresentam um programa para os 4 anos, podendo, apenas, ser reconduzidos uma vez.

Dou “de barato” a eleição. Mantendo a tal escolha “democrática”. Mas com a participação de todos os interessados atrás referidos. Não apenas os professores. Incluindo a tutela, com um peso forte. O peso dos docentes deverá baixar significativamente nesse processo eleitoral. As candidaturas (programas) serão apresentadas pessoalmente e poderá, desde logo, ser apresentado o núcleo forte da gestão (os acessores, da escola) como elemento de peso na escolha.

Será muito complicado implementar uma solução como esta? Ou estará o Ministério preso a qualquer compromisso nesta área? Não achamos que o que de bom foi feito nas outras áreas possa ter sucesso nas actuais condições de gestão. E porquê?

Porque, assim, a Escola manter-se-há como uma Escola dos professores e para os professores e não como uma Escola da Comunidade para os Alunos.

No entanto, entendemos este compasso de espera: para avançar com esta grande mudança, o Ministério precisa de aliados no terreno. Perdidos (e bem) os sindicatos, longe dos professores, socorre-se dos Conselhos Directivos... até onde for necessário. Mas, o seu momento também chegará.

2 comentários:

antimater disse...

Anda para aí um "post it" vermelho a saltar que não deixa ler nada!
Isso ao menos dá que se veja?...

Anónimo disse...

O Monge é contribuinte. O Monge é uma das meninas amuadas que, lutando por si, está a lutar pela qualidade do sistema educativo. O Monge é especialista em educação. Consequentemente, a sua opinião deve ser tida em devida conta. A sala de aula não deve ser local de clausura para os filhos do contradito. Eles precisam de diversidade de experiências, de locais diferentes para as mesmas e espaço para a sua privacidade e individualidade. Estamos a formar crianças, não a criar galinhas. O Monge assume parte da culpa ao permitir, como cidadão, a construção de uma sociedade pouco justa, individualista, segregacionista e competitiva. Está a tentar reparar o erro. Espera que o contradito também o faça, pois os objectivos são idênticos.
Um abraço do Monge.
http://donodocaos.blogspot.com