sexta-feira, março 03, 2006

Professores: os responsáveis e os coniventes

Os coniventes competentes e os coniventes incompetentes.
E os não coniventes: onde estão?

A Educação em Portugal bateu no fundo. É ideia geral. E uma realidade sustentada pelos resultados aferidos internacionalmente. Alguns entendem que antes de encontrar vícios nas escolas e nos professores é necessário procurar os responsáveis. Não concordo.

Apesar de ser razoável encontra-los (aos responsáveis), isso não resolve nada. É o mesmo que chafurdar no pântano. Isso não nos ajuda a sair dele. Fundamental é encontrar e aplicar as medidas e as mudanças necessárias.

Os responsáveis. Já escrevi aqui que são (também) responsáveis, todos os decisores dos últimos 30 anos. E quem foram eles? De uma forma geral, professores. No Ministério e em outras instâncias (assembleias, autarquias). Que legislaram no (seu) sentido corporativo. Em prejuízo do sector (e do seu cliente, o aluno). E quando não legislaram, interpretaram ou deixaram interpretar leis erradamente. Férias em vez de “interrupções da actividade lectiva”, não presença na escola no horário de trabalho, etc…

“Responsáveis” (terão sido?) que criaram (não existe em muitos países mais desenvolvidos) um Estatuto da Carreira Docente (um documento corporativo feito lei) que, através do que lá está escrito ou da forma como é interpretado cria (ou criou) um estado lastimável na prestação e responsabilidade docente nos estabelecimentos de ensino e educação… Juntamente com uma absurda “gestão democrática” que não tem nada de autonomia (o que seria razoável) e tem tudo de corporativismo. Criando uma escola de e para professores, com os alunos e as suas prestações à parte.

E quanto aos professores?

Há muitos bons professores. Não tantos como os que deveriam ser. Não tantos como os que não o são. Esses, os bons, são os mais penalizados com o descrédito a que chegou a sua classe. Pois cumprem a sua missão e não lhes é reconhecido esse facto. Deveriam ser os primeiros a reconhecer como importantes as medidas do Ministério. Pois a mudança, para eles é mínima: apenas terão de fazer na Escola aquilo que já fazem, na Escola e noutros locais… Nada de mais. Mas também passarão a ver os colegas, menos cumpridores a fazer o mesmo…

Infelizmente, na minoria de bons professores, há uma maioria de coniventes. Aqueles que não sendo a favor das manobras sindicais, também não se manifestam. Estão imóveis e silenciosos. Porque assim, sempre fazem um pouco menos. Têm mais uns dias de férias… Progridem na carreira e no ordenado mais depressa… Estão menos tempo na Escola… Reformam-se mais cedo…

Que professores restam? Os bons professores que não são coniventes. E quantos são? Pouquíssimos. Os que lutam por melhores condições para o seu trabalho na Escola. E que entendem ser preciso mais e diferente para que os seus alunos possam ser melhores cidadão no futuro. Os que contestam os sindicatos porque estes só estão a dar cobertura aos (colegas) que pouco fazem e ainda menos querem fazer…

Mas, com toda esta realidade a vir ao de cima, o seu número tem vindo a crescer. E quando todos os bons professores deixarem de ser coniventes (à medida que se vão desligando do discurso sindical) os sindicatos perderão “peso” tal como vêm perdendo a razão. E aí, a Educação em Portugal poderá ser melhor.

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