quarta-feira, setembro 28, 2005

Uma mera especulação


Consideremos que existia um grupo de personagens influentes, detentores de capital, que se preocupam com Portugal e o seu futuro.
Entendem que o seu (o deles) futuro depende, também, do futuro de Portugal, pelo que (bem), procuram influenciar (e influenciam) o curso da política portuguesa.

Uma mera especulação.

Algures no início do milénio, entenderam que não se ia a lado nenhum com o “socialismo do coração”. Esgotavam-se os anos de vacas gordas e, reformas, nem vê-las. A cor do futuro passava do cinzento para o negro.
Criam-se condições (alguma imprensa hostil) e sai Guterres e entra Barroso.
A imprensa fez o seu papel e o PSD ganhou, como pretendido, sem esmagar. Deixando portas abertas…

Barroso cumpriu, com Ferreira Leite no seu papel. Estancou a ferida criada por Guterres. Mas não reformou. Viu-se que isso era impossível. A força da direita, a governar restritivamente, não era suficiente para o efeito. Porque o PS é irresponsável na oposição e, com as forças partidárias mais à esquerda e sindicatos, juntos, constituíam uma insuperável força de bloqueio.

A solução?
Cozinhar uma nova liderança do PS. E promove-la à governação.
Pensado e feito.
Aproveitando a saída de Barroso, é colocado Santana. Deita-se abaixo Ferro Rodrigues. A imprensa primeiro e Sampaio depois cumprem os seus papeis.
Sampaio fica mal na “fotografia”. Deita abaixo uma maioria estável. Que se lixe…
E aí está. Eleições e novo Primeiro-ministro. Constâncio mistifica e Sócrates renega. Défice e promessas, respectivamente.
Pausa. Estado de Graça. Silêncio.
O socialismo é engavetado e envereda-se pelas reformas. E bem. Temos de o reconhecer.
Não havia outra hipótese para o País. Se era necessário um Pinóquio, tudo bem. Para bem nacional.

Sucedem-se os episódios. Iguais aos de Santana que culminam com a saída do Ministro das Finanças. Apenas 4 meses após a tomada de posse. Mas a imprensa está agora, silenciada…As mesmas situações já não são trapalhadas. São acontecimentos normais…

Marques Mendes é reduzido à sua insignificância e tamanho. Apesar da insatisfação popular, o PSD não descola. O terreno reformista é ocupado pelo Governo. As características populistico-demagógicas do actual (passageiro) líder do PSD não encontram terreno para vingar. A não ser à esquerda do PS… na zona do “social irresponsável”.
Os socialistas “verdadeiros” engolem sapos e elefantes em dose cavalar à medida que vão sendo tomadas (verdadeiras) medidas reformadoras. O social facilitismo desaparece. Coragem de Sócrates. Inesperado.

Mas não será, ainda, este Governo, que vai alavancar o País.
Reforma mas não resiste a pagar algumas dívidas: Banca, Industria Farmacêutica e Construtores. Dá uma dentro (e bem) e uma fora (e mal). Reforma, criando condições para o futuro, mas paga algumas “dívidas” aos lobies atrás indicados e toma algumas (outras) medidas de cariz despesista (para satisfação do lobie guterrista que o circunda) que impedirão a recuperação das contas do País.
O PS desgasta-se a fundo. E vai perder a implantação e a base de apoio necessária para prosseguir.
Mas a intervenção deste Governo poderá ficar para a História.
Com as reformas feitas, evitará a “alemanização” do País. A indecisão. A imobilização.
Mas cairá. Virão outros que capitalizarão as reformas e corrigirão o resto (o que será muito mais fácil).
E assim, poderemos passar a acreditar em Portugal.

Infelizmente, uma mera especulação.

Pois. Será que iremos ter (alguma vez e realmente) os Bancos a pagar IRC acima dos 10%? E os genéricos em Portugal com taxas de penetração de 40%? E a construção civil com dedução de IVA? E a erradicação imediata das reformas douradas do Banco de Portugal (e de outras EPs)?

Uma mera especulação.

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