segunda-feira, junho 20, 2005

Educação - o próximo passo

O problema da Educação em Portugal é qualitativo.
Tem a ver com o facto dos professores terem privilégios acrescidos em relação à população em geral. Obtidos em luta (nomeadamente sindical). Mas também obtidos à custa de outros contribuintes, com muito menos força corporativa.

Tem a ver com o facto de entre muitos desses direitos adquiridos, alguns terem sido mal adquiridos (a tal pressão corporativa contra governos fracos ou coniventes) e outros ilegalmente usufruídos, baseados em interpretações abusivas da lei, efectuadas pelos sindicatos de professores.

Tem a ver com o facto de Portugal aplicar mais de 6% do PIB em Educação (valor significativo), mas esse valor ser quase totalmente consumido com salários de pessoal, pouco sobrando para as outras necessidades. Portugal faz um esforço duplo em relação à média europeia ao pagar os seus professores. E apresenta uma das menores taxas mundiais de alunos por professor. Os professores são muitos e pagam-se bem.

Tem a ver com o facto de pouco ou nada ser exigível aos professores. Resultados, avaliação, qualidade, formação contínua efectiva, cumprimentos de horários de trabalho nas escolas e diferenciação clara entre período de férias e de interrupções lectivas.

Tem a ver com o facto de nas Escolas mandarem os professores: a tal gestão “democrática”.

Tem a ver com o facto de termos uma Educação para os professores e não uma Educação para os alunos.

Isto, apesar de haver bons professores. Mas numa situação de descontrolo total, do tipo a que se chegou, em Portugal, "as marias vão com as outras" … principalmente quando as regalias são significativas.

Nada disto seria um problema se os resultados fossem bons. Aí tudo se justificaria. Mesmo o esforço acrescido que o País (todos os outros contribuintes) faz para sustentar os privilégios acrescidos da classe docente. Quem paga a diferença aceitaria em pagá-la. Mas esse resultado não é bom. Nem é razoável. Nem sequer medíocre. É mau: estamos muito perto dos últimos, nos rankings mundiais.

Chegamos aqui devido à Revolução de Abril. No que é bom, mas também no que ficou mal. Nessa altura, a maioria dos licenciados no País (num deserto de habilitados), eram professores. Ocuparam inúmeros lugares na nova administração pública. Autarquias, deputados, serviços centrais, serviços regionais. E fizeram o seu lobie. E criaram o seu mundo. As suas reformas, as suas carreiras, as suas remunerações, os seus sindicatos. Resolveram os seus problemas.
A administração pública, no sector, está minada pela corporação docente. Rígida, imutável, congelada, instalada. Autêntica trituradora de Ministros da Educação. Impossibilitada de mudar e de deixar mudar. E mudar é absolutamente necessário.

Tudo isto foi obtido legal, mas imoralmente. Imoralmente porque os direitos de uns não se devem obter à custa dos outros. Porque esses direitos são limitados, não por uma análise unilateral do que é ou deveria ser devido, mas pelos direitos desses outros. Para além de que aos direitos correspondem deveres...

E esses direitos conquistados não podem ser obtidos com base na força e capacidade de lobie que abala uma sociedade. Tal como aquela que pretendem, agora, usar e abusar. Uma greve aos exames. Contra os alunos.

Mudar é preciso. Os sindicatos deveriam fazer a sua introspecção e aceitar cortes de benefícios. Ajustando os seus direitos à capacidade do País. E ligando-os a deveres.

Aceitarem a reformulação do ECD. Com vista à sua clarificação.
Largarem o “poder” docente absoluto nas Escolas.
Empenharem-se na criação de processos de avaliação para os docentes.
Valorizarem o mérito na evolução das suas carreiras.
Privilegiarem a qualidade e assumirem como seus os objectivos de elevarem a qualidade educativa do País, a reflectir, no futuro, nos rankings internacionais.
Tudo ao contrário do que fazem hoje…

1 comentário:

ocontradito disse...

Amigo
1)À custa dos outros sim. Caso a sua pensão de reforma (o que receberá) for mais do que desconta (hoje)... Assim, alguém (outros) estarão a pagar essa (sua) pensão (ou parte dela). Não é essa uma das razões da "luta"? Manter a idade de reforma? O que não pode ser generalisado?
2)O seu horário de trabalho é de 35 horas por semana. Cumpre-as na Escola? Talvez sim. Como escrevi há muitos e bons professores. Talvez seja o seu caso. Quantas vezes viu os professores e os sindicatos lutarem (lutarem mesmo) por essas condições? E nas escolas onde elas existem? Os professores cumprem?
3)Quanto às exigências aos professores: a sua progressão (que benificia TODOS os professores) depende dos resultados dessas exigências? Da qualidade obtida pelos alunos? De formação destinada a melhorar a sua prestação? Da sua prestação? Não?
Infelizmente, não!